terça-feira, 22 de junho de 2010

Em Bonito, Embrapa apresenta pesquisas em apicultura (Pastora Simone Paim)

MS Notícias
A Embrapa Pantanal apresentou em Bonito (MS) os projetos que vem realizando para o desenvolvimento da apicultura no Estado de Mato Grosso do Sul, com ênfase no Pantanal. Cerca de 150 produtores e técnicos envolvidos com a atividade acompanharam palestra do pesquisador Vanderlei Doniseti Acassio dos Reis no 6º Encontro de Apicultores de Mato Grosso do Sul e 1º Encontro da Apicultura Pantaneira, realizados na quinta-feira, 24 de setembro, no Centro de Convenções da cidade.
Vanderlei mostrou como era o trabalho relacionado à apicultura antes e depois de 2002, quando foi contratado para atuar especificamente com essa atividade pela Embrapa Pantanal (Corumbá-MS), Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
A primeira atividade realizada foi a padronização do modelo das colmeias utilizadas para a criação das abelhas africanizadas. Uma série de resultados práticos relacionados à pesquisa já foi disponibilizada à sociedade por meio de publicações da Embrapa Pantanal e outras ações como, por exemplo, a realização de cursos de capacitação em apicultura e na produção de mudas. Além disso, foi instalada uma estação meteorológica automática no assentamento rural do Taquaral, em Corumbá, para o monitoramento de dados climáticos (temperatura, índice pluviométrico etc.) para correlacioná-los com a floração das plantas apícolas dessa região.
Desde 2003 a Embrapa Pantanal faz o georreferenciamento dos apiários em seu campo experimental no Pantanal da Nhecolândia, a fazenda Nhumirim. Agora está realizando o mesmo estudo nos assentamentos rurais da região de Corumbá. O georreferenciamento permite melhorar a localização dos apiários e aumentar a produção, pois pode evitar a saturação das áreas visitadas pelas abelhas africanizadas. Este levantamento permitiu detectar que existe uma concentração de apicultores no assentamento rural do Taquaral, por exemplo.
O pesquisador ainda mostrou alguns gráficos indicando períodos e intensidade de floração, bem como o recurso utilizado pelas abelhas - néctar e/ou pólen. Falou também da importância do calendário apícola, que a Embrapa Pantanal está pesquisando e apresentou como é feita a coleta das partes das plantas utilizadas neste estudo. Para terminar, Vanderlei explicou que é preciso valorizar outros produtos da apicultura que podem ser obtidos no Pantanal, além do mel. “A cera, a própolis e o pólen apícola também têm valor de mercado”, disse ele.
O chefe geral da Embrapa Pantanal, José Aníbal Comastri Filho, o pesquisador e profissionais de outras instituições foram homenageados com o certificado de “Amigos da Apicultura e da Meliponicultura Sul-Mato-Grossense” no evento.
FEDERAÇÃO
O encontro teve também palestras com o coordenador da Câmara Setorial Consultiva de Apicultura de MS, Gustavo Nadeu Bijos. Ele apresentou informações sobre a apicultura no Estado. Disse que existem 1.300 apicultores produzindo 650 toneladas de mel por ano em 28 mil colmeias.
Segundo Gustavo, há dois anos havia 12 associações de produtores no Mato Grosso do Sul e agora são 24 legalizadas. Segundo ele, é fundamental que essas associações se articulem para criar a Federação Estadual de Apicultura, que vai representar o Estado junto à CBA (Confederação Brasileira de Apicultura).
Outro aspecto positivo para o setor foi a aprovação da lei estadual nº 3.631, de dezembro de 2008, que oficializa a atividade no Mato Grosso do Sul.
Vera Lúcia de Oliveira Golze, da Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural), falou sobre a meliponicultura no Brasil e no Estado. Essa atividade consiste na criação de abelhas sem ferrão.
Segundo Vera, no Brasil existem cerca de 400 espécies de abelhas sem ferrão, mas apenas 10% delas são criadas racionalmente ou com manejo conhecido. “O desafio é conhecer as espécies do Estado e saber quais são produtivas”, afirmou Vera. Ela também colocou como desafios conhecer os meliponicultores, trabalhar o calendário apícola e implantar técnicas adequadas e higiênicas de colheita do mel.
Marcus Faria, gerente de agronegócios do Sebrae-MS, falou sobre as contribuições que o Serviço Brasileiro de Apoio à Pequena e Micro Empresa fez à apicultura do MS. Uma das maiores contribuições, segundo ele, foi a orientação sobre gestão de apiários, transmitida pelo programa Gestapi.
O agrônomo Ricardo Peruca, também da Agraer, mostrou o trabalho que a agência vem fazendo no georreferenciamento da apicultura em todo o Estado, por meio do PNGEO (Programa Nacional de Georreferenciamento e Cadastro dos Apicultores). “Esse trabalho vai facilitar a tomada de decisões, o controle de doenças e evitar a saturação”, afirmou.
APICULTORES
Na fase final do evento, dois apicultores relataram suas experiências com a atividade. Edmar Pereira da Silva, de Anastácio, comentou como iniciou sua produção com apenas uma colmeia povoada com abelhas africanizadas e, em seis anos, passou a 110, todas confeccionadas por ele.
edmar é funcionário público, trabalha como vigia noturno e gosta de ter o dia livre para se dedicar à apicultura. Ele conta com a ajuda da família e adota tecnologias importantes, como o calendário floral, a alimentação artificial e o manejo correto das colmeias.
Ele fez um relato do que sente um apicultor que encontra a colmeia vazia. “Cada apicultor que está aqui, chega ao apiário e vê a caixa vazia sente como se um filho tivesse abandonado a casa. A gente tenta entender se foi falha nossa, mas ficamos tristes, chateados”, afirmou.
O zootecnista Eugênio Krüger, de Três Lagoas, mostrou a experiência de um grupo de apicultores que instalaram apiários na área da Fibria (ex-VCP, Votoratim Celulose e Papel, mais parte da Aracruz), uma empresa que tem grande área plantada com eucalipto.
A Fibria impõe regras rígidas para que os produtores tenham acesso a 5 mil hectares. Eles devem utilizar equipamentos de segurança e sinalizar sobre a presença de abelhas africanizadas no local. Houve problemas de perda de colônias desses insetos pela dificuldade das abelhas localizarem as colmeias no voo de retorno, já que os clones de eucalipto plantados possuem pouca variação no seu aspecto em relação a outras paisagens.
Agora a empresa está começando a ceder parte da periferia da área de reserva legal para a atividade, devido à dificuldade de manejo dentro da floresta plantada. Segundo Krüger, em outra propriedade da empresa localizada no Estado de São Paulo, a produção saltou de 8.850 quilos de mel de flores de eucalipto em 2005 para 120 mil quilos em 2008.
Na região existem quatro associações de apicultores: de Três Lagoas, de Brasilândia, de Chapadão do Sul e Cassilândia. Elas querem criar uma cooperativa regional para melhorar as condições nas quais a atividade é desenvolvida.

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